domingo, 7 de setembro de 2008

A grama do Vizinho

Há um certo há de queixume sem razões muito claras. Converso com pessoas que estão na meia-idade, todas com profissão, família e saúde e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: "Eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento”. Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha sido convidada. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são — ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As "festas em outros apartamentos" são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então, fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos para se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada - todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia e olha que na época em que ele escreveu estes versos, não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta era de exaltação de celebridades — reais e inventadas — fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras, fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes, enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?
Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas costumam acontecer dentro do nosso próprio apartamento.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Vida de Publicitário!!!

Aumenta a logomarca.”(Ah, tá! Entendi. O anúncio é de uma clínica de oftalmologia. Beleza!)
“Os dizeres estão ótimos, mas, faz outro!?”(Ham? É pra fazer mais “dizeres?”)
“Eu queria só mudar a cor do fundo. Apesar do assunto ser meio ambiente, minha mulher odeia verde.(Qual a cor preferida da sua mulher? Um pink ficaria ótimo!)
“Tem muito espaço vazio no anúncio!”(Vazio? Como assim, vazio?!)
“Eu havia pensado em outra coisa. Quero que você “bole” uma campanha diferente e, ao mesmo tempo, parecida com essa que meu concorrente fez.”(Eu não sei “bolar” nada diferente e ao mesmo tempo igual. Vai bater agora a chamada CRISE CRIATIVA. Quero a minha mãe!)
“Que tal colocar minha filha no comercial? Ela é linda e sabe falar.”(Ah, legal!! E sabe falar?)
“Tenho pressa com esse material. Você pode me apresentar no começo da tarde de hoje?” (Daria caso o Senhor tivesse aparecido ontem pela manhã! Hehe!)
“Eu não quero chamar muita atenção com esse material. Minha loja é pequena. Não tem estrutura para atender muita gente.”(Tudo bem, a gente coloca o seguinte texto no rodapé: “Só conseguimos atender meia dúzia de clientes por dia.” Vai fazer o maior efeito.)
“Tem alguma coisa que eu não gosto, mas não sei o que é...”(Em outras palavras: faça outra campanha.)“Eu quero só que você crie o VT. Meu sobrinho, que sabe mexer no Corel, vai fazer o resto do material.”(Tudo bem! Cada cliente tem o sobrinho que merece.)
"Olha só, não posso gastar muito. Nada de apresentador, modelos e nem foto nos anúncios. É tudo simples, mas tem que ser bom. Preciso aumentar a venda. Minha empresa está nas mãos de vocês.”(Bacana. Tudo maravilhoso, a preço de banana, pra salvar a lavoura, né?)
“Eu gostei da campanha, mas tenho que levar pra minha mulher, meus filhos e, ainda, para o pessoal da loja dar uma olhadinha.”(É muito bom ser avaliada por quem entende de propaganda, né?)
“Adorei a campanha, está linda, mas fui ver direitinho e resolvi que só vou ter condição de produzir o material no próximo ano.”(Tem problema não! A gente nem tinha muito o que fazer na Agência!)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Aos Filhos de Sagitário

Aos filhos de Sagitário
Era claro e sábio
Era manso, metade animal
E livre como ancião
Que já não teme o final
E eu amava, amava
Adormecia com gosto de sal, na boca
E amava assim
Com a devoção natural
Dos deuses, dos animais
Ah! quanto tempo atrás
Ah! quantas noites passei
A galopar em você.
Doce centauro, amo você
Doce centauro...
Composição: Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Auto Retrato

Fiz um curso de cinema este ano, em que um dos exercícios era fazer um auto-retrato. No inicio achei que fosse ser fácil, afinal ninguém me conhece mais do que eu mesma. Mas não foi bem assim, na verdade só tínhamos 3 minutos de fita pra salvar apenas 1, foi a coisa mais difícil que achei falar de mim mesma.
Pois bem, me chamo IOLANY MAURIZ DE GALIZA. Combinação única, quase que exclusiva de nome e sobrenome. Digo quase, porque alguém ai conhece outra pessoa com o mesmo nome: IO-LA-NY. (pausa) Dúvido muito, nem eu conheço?
Legal que meu pai, que é SÉRGIO, queria que meu nome fosse SERGIANA. Nossa me desculpe! Mas, que nome é esse? SER-GI-A-NA! Ainda bem que não é, mas tudo bem o importante é que minha mãe garantiu na qualidade do produto final. Vem cá tem certeza que 1 minuto só tem 60 segundos ? Vai ser difícil , mas vamos lá... Sou uma Piauiense com espírito de Paraibana, a vida me levou a ser uma publicitária, embora eu pensava que “aquele” vestibular de comunicação fosse pra jornalismo, mas enfim, atualmente trabalho em uma tv local da minha cidade e pretendo em breve fazer jornalismo.
Sou a mãe da Maysa, da Bruna e do Alê Filho, sou casada com um homem maravilhoso, chamado Alexandre,amo minha família, topo qualquer aventura, gosto de dançar, não bebo e nem fumo, já pesei 90 quilos e acreditem perdi 30 quilos em 6 meses sem passar pelo bisturi, conheço muitos lugares do Brasil, já morei no exterior, adoro ver filmes e meu único vício é a bendita coca, a velha coca-cola!, não vivo um dia sem ela . Gosto das coisas no preto e no branco, não sou de meias palavras. Amo reconhecer o que realmente me satisfaz. Fazer o que gosto. Saber o que não gosto. Discordar sem ferir e concordar sem querer só agradar. Me visto do jeito que combina comigo, custei a admitir que sofro horrores de TPM. Enfim, não vivo nenhum personagem. Sou eu e pronto. Com todas as minhas imperfeições, complicações e manias de uma pessoa que só quer celebrar a vida.
Essa biografia estourou o meu tempo, não dava pra falar tudo isso em 1 minuto, então improvisei com o plano "B", falar de mim de forma mais abstrata e foi mais ou menos assim:
Quando alguém me pergunta o que eu carrego dentro de minha bolsa, eu costumo responder: Eu carrego o meu mundo, na verdade eu comecei a carregar excesso de bagagem muito cedo, sai da casa de meus pais pra morar fora do pais muito cedo, casei muito cedo, fui mãe muito cedo, me formei muito cedo. Acho que foi um bom treino! Então tá, vou dizer de verdade o que carrego em minha bolsa. Item por item. Tem celular; estojo com a frente do som do carro; óculos de sol; nécessaire de maquiagem; fio-dental; carteira; bolsinha com moedinhas ; estojo de lápis; chaves do carro e da casa; perfume, remédios (para cólica, dor de cabeça e azia), absorvente, MP3 e headphone para o celular; carteira sem dinheiro; caderneta de anotação; barrinhas de cereais. Ufa! (Imagine tudo isso em uma bolsa!) Pra que tanta tralha? Sem dúvida essa é uma boa síntese da minha natureza vaidosa, lúdica e muuuuuito prevenida. Quer conhecer uma mulher? Olhe a bolsa dela. (Com o consentimento da dona. Lógico!)