É certo que não sabemos se amanhã estaremos vivos ou não, contudo, a situação de saúde em que meu pai vinha passando já era esperado para que isso acontecesse, o que me permite só agora escrever essas poucas linhas, ante o muito que haveria por dizer, na remota esperança de que ele ainda pudesse chegar a lê-la ou pelo menos ouvi-la.
Se Deus assim permitir que a mensagem aqui deixada sirva para reflexão e para manter a lembrança dos que o conheceram, o exemplo de conduta simples, sincera, alegre e honesta em que o mesmo pautou ainda em vida.
E para que exemplo mais virtuoso do que os espelhados nessas qualidades? E qual filho poderia desejar herança maior do que um patrimônio que eleva a moral e ética a um nível que se sobrepõe a quaisquer outros valores?
Não, não se poderia deixar de dizer que era um brincalhão, festeiro, alegre, boêmio, gostava das rodas de música, um fanfarrão. Sim, um fanfarrão do bem, que nunca desejou mal algum a ninguém e nem teve inimigos.
Todos sabem do gosto que meu pai tinha pela música, era nítido que ele realizava aquilo com prazer: cantar, “bater” um violão ou até mesmo só ouvir e ver alguém tocando algum instrumento.
Uiraúna, terra dos padres e dos músicos, era assim que meu pai enchia o peito pra falar de sua terra querida, por onde ele andasse do Piauí ao Maranhão. Amava Uiraúna e nos ensinou a amar essa terra. Ele se sentia realizando em caminhar pelas ruas da cidade, visitando e reencontrando os conterrâneos, tinha tanto orgulho desse lugar.
Soube da sua contribuição para o desenvolvimento cultural musical que teve para com Uiraúna. Através de relatos de amigos, tomei conhecimento que ele foi um grande semeador da música jovem, quando coordenou os primeiros grupos musicais da época, quando solteiro participava das tertúlias, os festejos de Jesus, Maria e José e a sua curta, mas magnifica participação na Banda RNC5.
O destino levou meu pai a trilhar por outro caminho saiu de Uiraúna em 1970, foi estudar no Pernambuco, através da ajuda de Israel Galiza, obteve o curso técnico em agronômia, logo depois foi para o Piauí trabalhar na EMATER, lá permaneceu por uns 20 anos, casou-se com uma Piauiense Iolá Rodrigues Mauriz e teve dois filhos: Dário Sérgio Mauriz de Galiza e eu, Iolany Mauriz de Galiza. Não teve condições de continuar os estudos, sem perspectivas de sustento maior a família e em busca de novos horizontes, foi convidado por seu João Claudino para trabalhar no ramo do comércio de carnes em Teresina e lá se foram mais 17 anos de trabalho e dedicação. Felizmente ou infelizmente entregou a loja, envolvesse na política ao lado de sua esposa, onde ela foi eleita como vereadora e vice-prefeita, depois veio à descoberta da doença (miocardiopatia dilatada), aposentou-se aos 55 anos por invalidez.
Não poderia exigir mais, ou desejar mais, de um pai que nunca permitiu que se ganhasse algo sem que fosse fruto de um labor. Um pai que nunca permitiu que se falasse mal dos meus professores, a quem sempre costumava atribuir razão.
Um pai duro no exigir dos filhos, mas sempre muito amável e amigo. Conquistava ele com meu sorriso e meus inúmeros argumentos, no qual ele dizia que eu tinha “puxado isso dele”. Uma de suas muitas frases que ficarão para sempre marcadas é a que diz : “Ninguém lhe rouba a sabedoria, riqueza de podre é a cabeça”.
Bom, a singela frase dita é muito mais que uma simples interpretação literal, ensina algo que vai além.
Que riqueza não é um fim em si mesma, e que não representa apenas acúmulo de bens materiais. Não é um fim em si mesma porque esse não deve ser o objetivo de um homem na terra, e nunca foi objetivo de papai. Assim como os bens materiais não se constituem nos maiores valores que se pode acumular e aspirar. Estes, os bens materiais podem se perder e ganhar, e ainda muitas vezes geram conflitos que muitos nunca desejariam tê-los.
Por outro lado, a posse de virtudes como as que estarão sempre gravadas na memória de todos que com ele mantiveram contato, representam sim, um patrimônio de valor inestimável, que não se perde jamais.
Assim, sempre repetiu a mim e posteriormente as netas Maysa e Bruna Galiza, que não queriam que elas passassem pelas mesmas dificuldades e que deveríamos estudar muito pra ser alguém na vida.
É..., ele havia aprendido da pior forma e passava a sua experiência da pior forma aos seus descendentes, como quem avisa a existência de um abismo no qual já havia caído.
Mas não só alertava a existência do perigo como quem cumpre o seu papel simplesmente por cumprir, eximindo-se de qualquer responsabilidade pela queda. Ele cobrava e exigia.
Meu pai nunca acreditou no ócio, sempre instigou para o estudo e para o trabalho, acompanhava pessoalmente as notas do colégio e assinava os meus boletins.
Como disse no inicio, são poucas as linhas ante do muito que poderia ser dito. Assim finalizo essas palavras não com saudosismo, mas com a certeza de que meu pai fez o seu melhor, na medida de suas possibilidades e limitações, e que o sentimento que deve permear as nossas mentes é a de gratidão e ser grato significa também corresponder ao bem-recebido, fazendo com que o mesmo seja transmitido a outras pessoas.
Dessa forma, que o exemplo de Zé Neto sirva de exemplo, que bom ou ruim, reflitam sobre suas condutas, sobretudo na educação e formação de seus filhos e netos.
Com simplicidade, seriedade, honestidade, amizade de filha pra pai, e que possam ser exemplo aos seus netos e que as futuras gerações possam sempre lembrar e saber que pelas qualidades e virtudes superiores, você nunca morrerá, assim com meu pai.
Sei que estas palavras refletem um pouco do que todos os irmãos, tios, primos, sobrinhos e amigos gostariam de lhe dizer neste dia 30.11.09.
Muito Obrigada, Painho!
